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Retrato de
Rosa Bonheur(1857), de Édouard
Dubufe, Castelo de Versailles.
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Marie-Rosalie Bonheur, conhecida como Rosa Bonheur,
nasceu em 16 de março de 1822 em Bordeaux e morreu em 25 de maio de 1899 em
Thomery, é uma pintora e escultora francesa, especializada em pinturas de
gênero de animais, a pintura e escultura animal. A glória que ela conhece em
vida diminui rapidamente após sua morte; sua pintura se distancia muito das
tendências modernas. A partir de 1980, publicações biográficas a associam aos
primórdios do feminismo por conta dela ter tido uma vida bastante emancipada.
Nasceu na Rue
Saint-Jean-Saint-Seurin, 29 (posteriormente Rua Duranteau, 55). Sua
mãe, Sophie Marquis (1797-1833), filha de pais desconhecidos, foi adotada por
um comerciante rico de Bordeaux, Jean-Baptiste Dublan de Lahet. Rosa Bonheur
gostava de imaginar que o mistério de suas origens maternas escondiam algum
segredo de Estado, e que ela seria de sangue real, até que ficou sabendo que
Dublan de Lahet era seu verdadeiro avô. Sophie Marquis se casou com seu
professor de desenho, o pintor Raimond Bonheur (1796-1849), que encorajaria a veia artística de seus filhos: além de Rosa, Auguste e Juliette (nascida em
1830, que se casaria com François Auguste Hippolyte Peyrol) também se tornaram pintores, enquanto que seu irmão Isidore Bonheur tornou-se escultor.
Em 1829 Raymond Bonheur foi para Paris retornando ao seu antigo alojamento, fazendo voto de celibato. A mãe e os irmãos de Rosa, abandonados por Raymond, seguiram rumo a Paris no ano seguinte, mas tendo recebido de Dublan de Lahet apenas algum dinheiro, Sophie precisou esgotar-se
de tanto trabalhar para tentar levar uma vida miserável. Em 1833, Sophie morreu. O pai
de Rosa se casaria novamente alguns anos mais tarde com uma mulher apenas nove
anos mais velha que Rosa, com quem teve um último filho, Germain.
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Retrato
de Rosa Bonheur (1859), de Charles-Michel
Geoffroy,
gravura
publicada ma edição de L'Artiste do 1º de julho de 1859.
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Na juventude, Rosa viveu em penúria com sua
família, em Paris. Após a morte de sua mãe, Rosa Bonheur recebeu uma instrução
elementar na escola, e depois tornou-se aprendiz de costureira. Seu pai acabou
por mantê-la em seu atelier, onde seus dons artísticos se revelaram. Em 1839,
começou a fazer estudos sobre os animais, que mais tarde se tornariam sua especialidade.
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Bœufs
et Taureaux, race du Cantal (Bois e Touros, raça do Cantal), 1848. |
Como aluna de seu pai, expôs pela primeira vez aos
dezenove anos no Salão de 1841. Sua arte começou a ser reconhecida quando
obteve medalha de bronze no Salão de 1845 e uma medalha de ouro no Salão de
1848 com seu Bœufs et Taureaux, race du Cantal (Bois e Touros, raça do Cantal).
Recebeu igualmente uma encomenda do Estado para realizar um quadro com tema
rural (por uma quantia de 3 mil francos à época).
Após a morte de seu pai em 1849, Rosa Bonheur o substituiu na direção da Escola Imperial Gratuita de Desenho para Moças, posto que ele havia assumido no ano anterior. « Sigam meus conselhos e eu farei de vocês Leonardos da Vinci de saias », dizia Rosa para suas alunas na Escola que dirigiu até 1860.
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Le Marché
aux chevaux (O Mercado de cavalos,1853),
New
York, Metropolitan Museum of Art.
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Rosa atingiu a notoriedade com sua obra O Mercado de Cavalos destacado no Salão de
1853, e numa época em que polêmicas opunham românticos e clássicos, seu quadro tem « o raro e singular
privilégio de receber apenas elogios em todas as áreas. […] É realmente uma
pintura de homem, nervosa, sólida, plena de franqueza ». O quadro não recebeu
qualquer recompensa, mas o júri publicou que « por decisão especial, a
Senhorita Rosa Bonheur e a Senhora Herbelin, tendo obtido todas as medalhas que
se pode conceder aos artistas, as mesmas gozarão, no futuro, das prerrogativas
às quais seu talento eminente lhes dão direito. Suas obras serão expostas sem
serem submetidas ao exame do júri ». Ernest Gambart, seu agente e amigo,
comprou o quadro por 40 mil francos (à época). Após este sucesso, Rosa
conquistou um reconhecimento internacional que lhe possibilitou viajar em
tournées organizadas por Gambart pela Bélgica e Inglaterra, durante as quais
ela foi apresentada a personalidades tais como a Rainha Victoria. Em seguida o
quadro foi enviado aos Estados Unidos onde, finalmente, foi comprado pela
enorme soma de 268 500 francos-ouro, antes de ser oferecido ao Metropolitan
Museum of Art (Museu Metropolitano de Arte) de Nova York.
Após 1855, Rosa passou a evitar participar do
Salão, vendendo toda a sua produção antecipadamente. « Nós sempre professamos
uma sincera estima pelo talento da Srta. Rosa Bonheur. Com ela, galanteios não
são necessários ; ela faz arte seriamente, e podemos tratá-la como a um homem.
Para ela, a pintura não é uma espécie de bordadinho », escreveu Théophile
Gautier naquele ano.
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Atelier de Rosa Bonheur em By.
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Em 1860, Rosa Bonheur se instalou em By, região
viticultora perto do vilarejo de Thomery em Seine-et-Marne, onde Rosa mandou
construir um enorme atelier e organiza espaços para seus animais. Em junho de
1864, a Imperatriz Eugênia visitou Rosa, ocasião que rendeu uma gravura em
madeira a partir de um desenho de Auguste Victor Deroy (1825-1906), conservada
no castelo de Fontainebleau. A Imperatriz voltou a By no ano seguinte, em 10
junho de 1865, para entregar pessoalmente a Rosa as insígnias de Cavaleiro da Ordem
da Legião de Honra, fazendo dela a primeira artista mulher a receber esta
distinção. Ela também foi a primeira mulher promovida a Oficial desta Ordem, em
abril de 1894.
Em 1880, Rosa Bonheur se instalou em Nice, na
residência de Ernest Gambart, a Villa « L'Africaine » (« A Africana »), e ali
pintou inúmeras obras.
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O Coronel William F. Cody
(Buffalo Bill) (1889),
Cody, Buffalo Bill Historical Center.
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Convidado por Rosa a visitar suas propriedades por
ocasião da Exposição Universal de Paris de 1889, Buffalo Bill lhe ofereceu uma panóplia Sioux (na Idade Média, panóplia era a armadura completa do cavaleiro europeu; por extensão, neste contexto eram as armas exibidas em paredes com fins decorativos). Rosa participou da delegação de artistas francesas que se
apresentaram na Exposição Universal de 1893 em Chicago.
Rosa Bonheur deserdou sua família e fez de sua
última companheira, Anna Klumpke, sua herdeira através de um acordo que
permitiu a esta última continuar morando em By, enquanto que a enorme coleção
de estudos acumulados em sessenta anos de trabalho foi vendida por um valor bem alto.
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La foulaison du blé en Camargue
(A pisadura do trigo em Camargue, 1899),
Museu de Belas Artes de Bordeaux.
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Após um passeio numa floresta Rosa contraiu uma congestão pulmonar, vindo a falecer em 25 de maio de 1899 no Castelo de By sem ter acabado sua última obra de grandes dimensões, La Foulaison (A Pisadura). Foi enterrada no Cemitério de Père-Lachaise, no túmulo que a família Micas lhe havia concedido.
Túmulo de Rosa Bonheur,
Cemitério de Père-Lachaise, Paris.
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Entre 30 de maio e 8 de junho de 1900, 2.100 obras (quadros,
aquarelas, bronzes e gravuras) de seu atelier e de sua coleção particular foram
vendidas para a Galeria Georges Petit em Paris. Pouco antes da Segunda Guerra
Mundial, Anna Klumpke retornou aos Estados Unidos, onde nasceu em 1856, lá
morrendo em fevereiro de 1942. Em 1948, seus restos mortais foram repatriados
para a França e enterrados no túmulo de Rosa Bonheur. O Museu-Castelo de By, em Thomery (perto da
floresta de Fontainebleau), residência de Rosa Bonheur, está fechado ao público
desde 2015.
Quanto à mulher Rosa Bonheur, durante a sua juventude no campo, no Castelo
Grimont à Quinsac, era chamada de « moleque »,
reputação que a seguiu durante toda a sua vida e que ela nunca procurou
desmentir, usando cabelos curtos e fumando charutos. Ela se dizia consciente de
que teria se sentido mais completa se tivesse sido artista e mãe, mas Rosa
sempre se recusou a casar pois queria permanecer independente, e também por
conta das más recordações que tinha do comportamento de seu pai em relação à
sua mãe. E já que o casamento fazia (e, por conta do machismo, em inúmeras
situações ainda faz – N.T.) as mulheres subalternas aos homens, ela achava que
este compromisso a teria impedido de se dedicar à sua arte. Homossexual, Rosa
Bonheur sempre refutou este e outros rótulos. Viveu com duas mulheres: a primeira foi
Nathalie Micas, que Rosa conheceu em 1837 quando ambas eram adolescentes e que
posteriormente também se tornaria pintora. Nathalie viveu com Rosa até sua
morte, em 1889.
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Retrato de Rosa Bonheur (1898),
Anna Klumpke,
Metropolitan Museum of Art, Nova York. |
A segunda, após a morte de Nathalie, foi a norte-americana Anna
Klumpke, também pintora, que Rosa conheceu no outono de 1889 e que tornaria a
ver diversas vezes. Anna foi morar com Rosa em By em junho de 1898 para pintar
seu retrato e escrever suas memórias. Rosa pediu a ela que permanecesse junto a
si, tornando-a sua única herdeira.
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« Permissão de travestimento »
obtida por Rosa Bonheur em 1857.
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Mesmo vivendo numa época tão preocupada com as convenções, a vida
emancipada que Rosa Bonheur levava não era motivo de escândalo. Para se vestir
de forma masculina, Rosa precisou fazer como todas as mulheres da época que
desejavam fazer o mesmo : pedir uma « permissão para se travestir » conforme
uma ordem de 1800, renovável semestralmente junto à prefeitura de Paris, para
poder usar calças compridas para frequentar feiras de animais ou montar a
cavalo. Todavia, circulavam inúmeros boatos sobre sua vida privada, o que a
fazia sofrer muito. Após deixar seu lar refeito, e tendo seu pai morrido, ela
pagou todas as dívidas dele e continuou a ajudar financeiramente seu irmão :
alguns dizem que, na verdade, ele era filho de Rosa. As afirmações de que era
homossexual também a aborreciam ; ela insistia que a época era tolerante com as
mulheres artistas, e que se ela fosse mesmo, não teria o menor problema em
assumir.
Com relação à crítica, a carreira de Rosa Bonheur se desenvolveu longe de
correntes artísticas e nem sempre foi uma unanimidade junto aos críticos. Não se
associou a quaisquer das sucessivas correntes modernas: romântica, realista –
sendo esta, no entanto, uma estética bem próxima à sua – nem impressionista,
seguindo uma corrente conservadora, « burguesa », à qual todas as demais iam se
opondo. Suas posições políticas conservadoras e « agrárias » acentuaram esta
associação. Sempre teve uma clientela rica, para a qual ela nunca se negou a
pintar os retratos dos animais de companhia.
Após a queda do Segundo Império, enquanto seu
sucesso comercial a obriga a agradar a crítica, os que mantêm contato com as
tendências do momento começam a duvidar :
« Podem as mulheres ser grandes pintoras ?
Ficaríamos tentados a dizer sim quando vemos os bois de Rosa Bonheur, e a dizer
talvez, ou mesmo não quando estudamos suas figuras humanas. » — Jules Claretie,
1874.
O modernismo repudiou seu gênero de pintura.
Segundo Ambroise Vollard, Paul Cézanne a consideram « uma excelente sub-ordem
». O mundo da arte não a esqueceu totalmente, mas apenas para dizer como
François Mauriac : « Eu bem sei que a literatura bucólica tende à facilidade.
Eu temo todo o aspecto ‘Rosa Bonheur’ dessa arte ».
No final do Século XX, diversos autores publicaram
novas biografias de Rosa Bonheur baseadas no excepcional caráter de sua vida
enquanto mulher. Essas obras lhe valeram o resgate de sua notoriedade, enquanto
sua produção artística permanece confinada ao kitsch ou ao doentio. O Museu de
Belas Artes de Bordeaux, sua cidade natal, organizou em 1997 a primeira mostra
retrospectiva desde a morte da artista.
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Le Labourage nivernais (Aragem em Nivernais), 1849. |
Rosa Bonheur foi uma pioneira, sendo a primeira
pintora a receber, em 1865, a Legião de Honra. A própria Imperatriz Eugênia fez
questão de lhe entregar o prêmio, querendo mostrar que « o gênio não tem sexo
». Em 1894, ela se tornou a primeira mulher promovida ao posto de Oficial. Rosa
alcançou o nível de grande pintora apesar de todas as barreiras impostas às
mulheres com sua obra Le Labourage nivernais (A Aragem em Nivernais) em 1849
devido ao tema, ao tamanho (1,34m de altura por 2,6m de largura) e à
composição. Esta obra faz referência à pintura holandesa e à obra literária La
Mare au diable (O Pântano do Diabo) de George Sand. Os bovinos atravessam o
quadro numa linha horizontal.
Rosa traçou uma estratégia comercial para assegurar sua independência financeira. Organizou um atelier de produção com Nathalie Micas e Juliette Bonheur. Suas obras produzidas em estampas para a Maison Goupil, que procurava colocar a arte ao alcance de todos, lhes assegurou uma ampla divulgação de seus trabalhos. Rosa deu entrevistas, se deixou fotografar e partiu em tournée com seu marchand, indo encontrar sua rede de vendas e promover seus quadros, sendo a primeira artista viva na história da pintura a ver o mercado de arte especular sobre suas obras.
A obra de Rosa Bonheur integra coleções públicas:
Nos Estados Unidos:
·Cody, Centro Histórico Buffalo Bill: Le Colonel
William F. Cody – Buffalo Bill (O Coronel William F. Cody – Buffalo Bill), óleo
sobre tela;
·Nova York, Museu Metropolitano de Arte :
·Marché
aux chevaux (Mercado de cavalos, 1853), óleo sobre tela (3 × 5 m);
·Veaux
(Novilhos, 1879), óleo sobre tela;
·Saint-Louis (Missouri), Museu de Arte de Saint-Louis : Relais de chasse (Revezamento de caça, 1887), óleo sobre tela.
Na França:
·Museu de Belas Artes de Bordeaux : La Foulaison (A Pisadura, 1899), óleo sobre tela;
·Museu d'Évreux : Les Pyrénées (Os Pireneus), óleo sobre tela;
·Palácio de Belas Artes de Lille : Berger landais (Pastor landês), óleo sobre tela;
·Paris, Museu d'Orsay : Labourage nivernais (Aragem em Nivernais, 1849), óleo sobre tela.
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Relais
de chasse (Revezamento de caça, 1887), Museu de Arte de Saint-Louis. |
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Veaux (Novilhos, 1879), Nova York,
Museu
Metropolitano de Arte.
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Berger landais (Pastor landês),
óleo sobre tela,
Palácio
de Belas Artes de Lille.
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Les Pyrénées ou le Cirque de Gavarnie
(Os Pireneus ou
o Circo de Gavarnie), Museu de Évreux.
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·Museu Nacional de Varsóvia : Sultan et Rosette,
les chiens des Famille Czartoryski (Sultão e Rosette, os cães dos Czartoryski, 1853), óleo sobre tela.
Prêmios e honrarias:
·Salão de 1845 : medalha de 3ª classe (seção «
Paisagem e Animais ») ;
·Salão de 1848 : medalha de 1ª classe ;
·Salão de 1853 : seus quadros ficam isentos de júri
de admissão no Salão ;
·1863 : membro honorário da Academia de Belas Artes
da Pensilvânia e da Sociedade de Artistas Belgas ;
·1865 : Cavaleiro da Legião de Honra : decretado no
Conselho de Ministros em 8 de junho e assinado pela Imperatriz-Regente ; Cruz
de São Carlos do México, outorgada pelo Imperador Maximiliano e pela Imperatriz
Carlota ;
·1868 : membro da Academia de Belas Artes de Anvers
;
·1880 : Comandante da Ordem Real de Isabel por
Afonso XII de Espanha e Cruz de Leopoldo da Bélgica ;
·1885 : membro honorário da Academia Real de
Aquarelistas de Londres e Mérito de Belas Artes de Saxe-Coburg-Gotha ;
·1894 : Oficial da Legião de Honra, primeira mulher
neste posto.
Rosa Bonheur recebeu homenagens também ao se tornar
nome de ruas em Paris, Bordeaux, Nantes, Thomery, Melun, Fontainebleau, Nice,
La Rochelle, Lyon, Belfort, Perpignan, Roubaix, Vesoul e Wasquehal. Seu nome
também batizou colégios, escolas primárias e maternais. Rosa Bonheur recebeu homenagens também ao se tornar
nome de ruas em Paris, Bordeaux, Nantes, Thomery, Melun, Fontainebleau, Nice,
La Rochelle, Lyon, Belfort, Perpignan, Roubaix, Vesoul e Wasquehal. Seu nome
também batizou colégios, escolas primárias e maternais. Uma estátua
representando Rosa sentada segurando uma paleta se encontra no Jardim Público
de Bordeaux.
Tradução e Adaptação:
https://fr.wikipedia.org/wiki/Rosa_Bonheur
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