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jeudi 19 juillet 2018

Adélaïde Labille-Guiard, pintora, França - 1749-1803

Adélaïde Labille-Guiard, Autorretrato com duas alunas:
Senhoritas Capet e Carreaux de Rosemond (1785), 
Nova York, The Metropolitan Museum of Art.
Adélaïde Labille era a caçula de oito filhos de um casal de burgueses parisienses, e a maior parte de seus irmãos morreu muito cedo. Seu pai, Claude-Edmé Labille, era comerciante e proprietário da boutique de moda À la toilette, situada na Rue de la Ferronnerie, no bairro de Saint-Eustache. Foi nessa boutique que Jeanne Bécu, futura Madame du Barry, trabalhou como vendedora.

Adélaïde casou-se muito cedo, aos vinte anos, com Nicolas Guiard, um funcionário do Receptor Geral do Clero da França. Sua certidão de casamento, assinada em 25 de agosto de 1769, indica que Adélaïde era pintora da Academia de Saint-Luc, portanto ela já era pintora profissional à época. O casal viria a se separar oficialmente em 27 de julho de 1779, divorciando-se em 1793.

Retrato de 
François-André Vincent (1783), 
por Adélaïde Labille-Guiard.
Em 8 de junho de 1799, Adélaïde se casou novamente, agora com o pintor François-André Vincent, vencedor do Grand Prix de pintura de 1768 e membro da Academia de Belas Artes. Ela o conhecia desde a adolescência. À época, a artista já era muito conhecida por suas obras em pastel e suas telas a óleo. Esta união durou até a morte da pintora, em 1803. Ela conservou o nome de Guiard mesmo após o divórcio e o segundo casamento, já que havia se tornado conhecida no mundo artístico como Adélaïde Labille-Guiard.

Adélaïde Labille-Guiard dominava admiravelmente a miniatura, o pastel e a pintura a óleo, mas pouco se sabe sobre a sua formação. Sendo mulher, estava excluída da formação oferecida pelos pintores em seus ateliers, não podendo frequentar aulas ao lado de rapazes. Recebeu apenas ensinamentos junto a mestres pintores, aceitando dar aulas a jovens pintoras como retribuição.

Durante sua adolescência, Adélaïde recebeu uma formação de miniaturista junto a François-Elie Vincent, pintor, retratistae e hábil miniaturista. Nascido em 1708 em Genebra, François-Elie era Professor na Academia de Saint-Luc antes de ser promovido ao cargo de Conselheiro, em 1765. A família de Vincent era próxima de Adélaïde, por isso a artista conhecia desde a adolescência seu futuro marido, François-André Vincent, filho de seu mestre.

Após seu casamento com Guiard, Adelaïde aprendeu a técnica de pintura em tinta pastel junto a um mestre do gênero,  Quentin de La Tour, entre 1769 e 1774, ano em que ela expôs na Academia de Saint-Luc o retrato em pastel de um magistrado. Em seguida, foi iniciada na pintura a óleo por seu futuro marido, François-André Vincent.

Adélaïde foi admitida na Academia de Saint-Luc em 1769 graças a François-Élie Vincent, quando tinha somente vinte anos. Para a sua aprovação, apresentou uma miniatura da qual nada se sabe atualmente. Fazer parte da Academia de Saint-Luc permitiu à artista exercer profissionalmente a sua arte. Inúmeras pintoras integravam a Academia de Saint-Luc, tendo 130 artistas mulheres em 1777.

Louise Élisabeth Vigée Le Brun, 
Autorretrato (1790), 
Florença, Corridor de Vasari.
Desde a sua primeira exposição, em 1774, Adélaïde viu suas obras serem comparadas às de Élisabeth Vigée-Lebrun, filha de um adjunto de um antigo professor, e que havia entrado com facilidade na Academia de Saint-Luc. Os críticos tomavam cuidado para apenas fazer comparações entre obras realizadas por mulheres. O sucesso deste salão foi tanto que a Academia Real de Pintura e Escultura acabou se ofendendo. O edital de março de 1776 aboliu “agremiações, comunidades e confrarias de arte e de métier”. A Academia de Saint-Luc fechou suas portas em 1777. Depois disso, Adélaïde procurou entrar para a Academia Real para se tornar conhecida. Para entrar ali, era necessário apresentar uma pintura a óleo. Foi então que ela iniciou seu aprendizado de pintura a óleo junto a seu amigo de infância, François-André Vincent.

Após o fechamento da Academia de Saint-Luc, o Salão da Correspondência, (um Salão permanente) foi criado em 1779 e abriu em 1781 na Rue de Tournon por Pahin de la Blancherie. Os artistas que não pertenciam à Academia Real de Pintura e Escultura podiam expor ali as suas obras em troca de uma cota mínima. Adélaïde expunha ali apenas obras em pastel, as quais eram bem acolhidas pelos críticos.

Retrato do pintor Joseph Marie Vien, 
por Adélaïde Labille-Guiard.
Adélaïde se tornou conhecida como pintora e pastelista. François-André Vincent, recém-admitido na Academia Real de Pintura e Escultura, enviou à artista inúmeras personalidades da Academia, como Vien, os Professores Voiriot e Bachelier, seu amigo Suvée, para que ela lhes pintasse os retratos. Estes, admirados com o talento da artista, decidem indicá-la como candidata à Academia Real de Pintura. Em 1782, Adélaïde expôs no Salão da Correspondência seu autorretrato em pastel e os retratos a óleo de Vincent e de Voiriot.

O Escultor Augustin Pajou (1783), 
Pastel sobre papel azul, 71 x 59 cm, 
Museu do Louvre, Paris.
Em 1783, Adélaïde termina a série de retratos em pastel dos acadêmicos. Foi graças ao relacionamento de sua família com Pajou, famoso escultor, que ela recebeu a encomenda para fazer seu retrato, que foi exposto naquele mesmo ano, sendo calorosamente acolhido graças à sua semelhança com o retratado. Os críticos comparavam suas obras em pastel às de Quentin de La Tour, o grande mestre do gênero. Adélaïde tornou-se, então, uma artista reconhecida nesta área. 

Sob o título de Suite de Malborough no Salão de 17834, um autor desconhecido publicou versos em que as pintoras Anne Vallayer-Coster, Élisabeth Vigée-Lebrun e Adélaïde Labille-Guiard foram atacadas, assim como aconteceu com o pintor Hue durante o Salão de 1783. Adélaïde foi acusada de ter inúmeros amantes, dentre os quais François-André Vincent. Tratava-se de acusações mentirosas contra mulheres que exerciam um métier então considerado como masculino, assim como contra as que, como Adélaïde, haviam se separado de seus maridos. Assim que ficou sabendo do ocorrido, a artista escreveu à Condessa de Angiviller, esposa do diretor dos Edifícios do Rei, pedindo-lhe que mandasse parar a publicação dos panfletos injuriosos. A Condessa, então, confiou à polícia esta tarefa. Todos os panfletos impressos foram destruídos. Apesar desse incidente, os amigos artistas de Adélaïde, como  Vincent e Pajou, continuaram a apoiá-la.

Adélaïde Labille-Guiard foi recebida na Academia Real de Pintura e Escultura em 1783, junto com Élisabeth Vigée-Lebrun. Enquanto Vigée-Lebrun conseguiu sua nomeação graças à Rainha, Adélaïde deveu a sua aos seus amigos acadêmicos.

Jacques Sarrazin (1592-1660), 
escultor, por François Lemaire (1657), 
Castelos de Versailles e do Trianon.
A primeira efígie de artista que serviu como recepção foi a do escultor Jacques Sarrazin pintada por François Lemaire para a sua recepção em 1657. Com dimensões padronizadas, as efígies de artistas representavam principalmente os pintores da História ou escultores, usando peruca, em pé ou sentados em seus ateliers, geralmente segurando o crayon, a paleta ou o cinzel e rodeados de objetos decorativos que mostravam suas especialidades: cavalete, papelão para desenho, goiva, malho, mármore etc. Adélaïde seguiu esta tradição com seu primeiro trabalho de recepção na Academia, apresentado no Salão de 1783: o retrato de Pajou esculpindo um busto de Lemoyne (11º parágrafo), obra com a qual esse escultor obteve um grande sucesso. Adélaïde Labille-Guiard, assim como os retratistas La Tour et Duplessis, varia a entrega de sua segunda obra de recepção.

 Retrato de 
Charles Amédée Philippe van Loo 
(1785), Castelo de Versailles.
No Salão de 1785 o incidente dos panfletos atacando Adélaïde e as outras artistas já havia sido esquecido. Acadêmicos influentes aceitaram posar para a artista, como Jacques Vernet, Charles-Nicolas Cochin e Amédée Van Loo. Esses retratos foram apresentados no Salão junto ao seu Autorretrato com Duas Alunas e outros retratos de diversas mulheres da alta sociedade, dentre os quais os da Condessa de Flahaut, cunhada do Diretor dos Edifícios do Rei e irmã da Condessa de Angiviller. Pode-se entender este retrato como um apoio oficial desta família à pintora. Os críticos sempre se mantiveram elogiosos ao trabalho da artista. 

Graças ao apoio do Diretor dos Edifícios do Rei, Adélaïde obteve um salário em 1785, quando a artista enfrentava uma difícil situação financeira, estando separada de seu primeiro marido, Guiard. Para conseguir se manter, começou a dar aulas para moças, dentre as quais Marie-Gabrielle Capet.

Madame Adélaïde de França 
em 1787, por 
Adélaïde Labille-Guiard (1787), 
Castelo de Versailles.
Adélaïde foi convidada ao Castelo de Versailles para fazer o retrato de Mesdames de França (as filhas do Rei Luís XV), das tias do Rei Luís XVI e de Madame Élisabeth, a irmã do Rei, em 1786. Ela era uma pintora reconhecida, membro da Academia Real de Pintura. Estas encomendas da Família Real deu a Adélaïde uma grande notoriedade entre os membros da nobreza. As tias do Rei, satisfeitas com seus retratos, reivindicaram para sua pintora o título e brevet de “Pintora de Mesdames”, o qual lhe foi concedido em 1787. Ela partilhou esta honraria com o pintor alemão Johann Julius Heinsius. Adélaïde Labille-Guiard expôs no Salão de 1787 os retratos em pastel de três princesas: Madame Élisabeth, Madame Adélaïde em traje de gala e Madame Victoire. Em seu retrato, Madame Adélaïde está em pé junto ao medalhão de seu pai, Luís XV, de sua mãe e de seu irmão já falecidos. O objetivo era mostrá-la em todo o seu esplendor.

Retrato de 
Madame de Genlis 
(1790), por 
Adélaïde Labille-Guiard.
Em 1790, a Revolução Francesa obrigou Adélaïde a ir em busca de uma outra clientela no agitadíssimo meio político. Foi então apresentada ao círculo de amizades do Duque de Orléans, como mostra o retrato de Madame de Genlis, amante do Duque. Na mesma época, Adélaïde defendeu a ideia de que a Academia Real de Pintura fosse aberta a todas as mulheres, sem número limitado, sendo apoiada por seus amigos Vincent, Pajou, Gois e Miger, mas o voto não foi considerado como válido. Em 1791, as tias do Rei Luís XVI se refugiaram na Itália, obrigando Adélaïde a encontrar novos patronos. Pintou, então, os retratos de quatorze deputados da Assembleia Nacional, dentre os quais o de Talleyrand. Em contrapartida, este propôs à Assembleia de dar às mulheres pobres os meios de subsistir através dos frutos de seus trabalhos. O retrato de Robespierre feito por Adélaïde é conhecido por seu enquadramento inovador e seu fundo neutro. As críticas foram boas, e a artista teve seu trabalho em Paris garantido pelos novos poderosos.

Retrato de 
Maximilien de Robespierre (1791),
por Adélaïde Labille-Guiard.
Em1792, Adélaïde precisou deixar Paris, já que recebia uma pensão do Rei e corria o risco de ser presa como apoiadora da monarquia, passando um tempo em Pontault-en-Brie com o marido, François-André Vincent. No ano seguinte, durante o Terror, a artista foi forçada a destruir seu grande quadro Recepção de um Cavaleiro da Ordem de São Lázaro por Monsieur, no qual ela travalhava havia anos. Tratava-se do retrato do irmão de Luís XVI. Sob o choque da perda de sua obra, Adélaïde não participou do Salão de 1793, interrompendo sua carreira artística por um tempo.

Joachim Lebreton
(1795), por 
Adélaïde Labille-Guiard.
Graças a Joachim Lebreton, chefe dos escritórios dos Museus, Adélaïde obteve uma pensão maior em 1795 e um alojamento no Colégio das Quatro Nações. Ela possuía também um atelier no Instituto da França. No Salão desse mesmo ano, expôs os retratos de Joachim Breton e de François-André Vincent. Ela continuou a expor retratos nos Salões entre 1798 e 1800, sendo sempre bem vista pelos poderosos graças à sua atitude favorável à Revolução. 

Retrato de 
François-André Vincent 
(1795), seu marido, 
Paris, Museu do Louvre.
No Século XVIII, era proibido às mulheres copiar modelos vivos, pois isto era considerado contrário à decência. Deste modo, as artistas plásticas que quisessem retratar modelos vivos deveriam ter uma carreira autodidata. Esta limitação imposta pela sociedade ao aprendizado das mulheres artistas explica por que elas faziam principalmente retratos de busto. Adélaïde não era diferente de suas coirmãs, pintando apenas retratos cortados na cintura ou no peito em tinta pastel ou a óleo. O pastel, ainda que fosse difícil a dominar, era considerado uma técnica feminina. De fato, ele é ideal para pintar retratos de busto sobre pequenas superfícies de papel. O retrato em pastel é um retrato íntimo. A tinta a óleo era escolhida para representar a família em retratos oficiais. As obras de Adélaïde são reconhecidas por seu realismo e, ao contrário de Élisabeth Vigée-Lebrun, ela não retocava os rostos de seus modelos. 

Madame Victoire de França 
(1787-88), por 
Adélaïde Labille-Guiard.
Das cerca de setenta obras de Adélaïde Labille-Guiard conhecidas atualmente, menos de uma dúzia são retratos em que os modelos aparecem em pé, encomendas de pessoas ilustres, como Madame Victoire ou o pintor Van Loo. A maior parte das pessoas retratadas por Adélaïde são mulheres. Os retratos de homens que ela pintou são geralmente de conhecidos ou de seus amigos, especialmente de seu marido, o pintor François-André Vincent. Os retratos masculinos foram feitos com o objetivo de alavancar sua carreira. Esta escolha de Adélaïde por seus conhecidos não era algo original para a época. Era uma escolha partilhada por outras artistas. Adélaïde passou a prestar mais atenção aos seus modelos masculinos após o escândalo dos panfletos durante o Salão de 1783.

Autorretrato de 
Adélaïde Labille-Guiard (1774), 
miniatura oval sobre marfim, 
atualmente conservada no 
Museo Lázaro Galdiano, Madrid.
Ao menos dois autorretratos foram pintados por Adélaïde. Este tipo de retrato é reconhecido, uma vez que os artistas às vezes ofereciam seus autorretratos à Academia Real, como por exemplo o “Autorretrato de Rigaud usando turbante”, doado pelo pintor em 1743; ou “Autorretrato de Charles Antoine Coypel” oferecido pelo artista em 1746. A ideia do autorretrato se desenvolveu na França no meio do Século XVII, sendo sobretudo destinado à exaltação da atividade artística. Os artistas se representavam de bom grado em grandes composições históricas, em retratos coletivos ou ainda em pinturas de gênero familiar ou anedóticas. No caso de Adélaïde, tratava-se antes de mais nada de se apresentar como pintora e mulher. Daí observarmos em seus autorretratos um cuidado particular tanto com suas vestes quanto com seus atributos de pintora. Em seu autorretrato em pastel, Adélaïde se apresenta como pintora, com pincéis e paleta diante de uma tela, tendo um cuidado particular – como em suas outras obras – com a trama do tecido e com as rendas.

Em 1787, no seu Autorretrato com Duas Alunas, a artista decidiu se representar em todo o esplendor adquirido com seu status de pintora da Academia, usando um vestido caro que retém a luz. Temos que admirar o talento da pintora na representação deste vestido. Ela traz consigo seus pincéis e sua paleta, mas o espectador a vê agora pelos olhos da própria modelo. Atrás de Adélaïde estão suas duas alunas, Marie-Gabrielle Capet e Marie-Marguerite Carreaux de Rosemond.

Tradução e Adaptação:
Gisèle Pimentel

Referências:

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